O título deste artigo parece uma contradição? Na minha opinião, pessoas que não sabem
como dizer “não”
a um pedido que não pretendem atender causam muitos problemas a si
mesmas e aos outros, devido a não ter desenvolvido esta capacidade – que
muitas vezes é realmente complicada.
Dizer “sim” quando deveria dizer “não” pode sobrecarregar você, lotar
sua lista de pendências com itens que não deveriam estar lá e, o que é
pior, reduz sua eficiência para fazer o que você deveria (e desejaria)
estar fazendo – podendo até mesmo levá-lo a ter dificuldade de dizer
“sim” a um pedido posterior, devido à sobrecarga existente.
Além disso, a sobrecarga causada pelo seu bloqueio ao “não” pode
prejudicar as próprias pessoas a quem você disse “sim” indevidamente,
quando a sobrecarga faz com que você, quase inevitavelmente, atrase ou
deixe de entregar o que prometeu a elas sabendo que teria dificuldade em
atender. E esse prejuízo causa frustração e rejeição, de ambas as
partes, além de fazer com que você
deixe de ser levado a sério.
…mas também saiba dizer “sim”
Dependendo da sua posição ou papel, pode ser difícil dizer não,
especialmente se não houver uma justificativa externa. Mas quem diz
“sim” nas horas certas tende a ter resultados de produtividade que
ajudam a justificar os frequentes “nãos”.
Ser assertivo, afirmando clara, objetiva e categoricamente suas
posições, é uma característica mais valorizada em uma equipe quando o
seu portador não a confunde com ser agressivo nem com ser “do contra”. É
necessário levar em conta as circunstâncias e as posições dos demais
envolvidos, e ter a habilidade de se expressar na hora certa, e usando a
forma mais apropriada – especialmente na hora de dizer não.
Reinaldo Polito explica como fazer
Quando você se depara com uma situação com a qual não concorda, ou
recebe um pedido que não deve (ou não pode) atender, pode ter de encarar
a tentação de dizer imediatamente tudo o que pensa sobre a situação,
suas causas, a paersonalidade e o comportamento das pessoas envolvidas.
Isso não é assertividade: é grosseria, e geralmente não melhora a
situação geral.
Reinaldo Polito, que há anos é um autor muito procurado no que diz respeito a comunicação e expressão, dá
algumas dicas sobre como se portar na hora de intervir ou dizer não. Reproduzo:
- “Durante a conversa você deveria falar de maneira firme, sem
hesitações, para deixar claro que o assunto é importante. Entretanto,
repito, sem agressividade.”
- “Nessas circunstâncias é muito importante, embora seja difícil, não demonstrar nervosismo ou descontrole emocional.”
- “Fale sem desviar os olhos do interlocutor. Evite esfregar nervosamente as mãos. Não grite nem segure a voz na garganta.”
- “Escolha o lugar certo. Esse tipo de conversa não pode ocorrer
diante de outras pessoas, nem em lugares inadequados como corredores ou
elevadores. Muito menos por telefone. (…) Procure falar também em um
horário com pouca ou nenhuma chance de interrupção.”
- “Não dê uma de coitadinho. Nada de chororô. Se quiser ser
respeitado e ouvido seja firme, olhe na direção do interlocutor sem
fugir com os olhos, fale “para fora”, não fique esfregando as mãos ou
cruzando e descruzando as pernas nervosamente. Mostre que você tem
razão.”
No ambiente profissional
Dependendo do seu papel ou de suas obrigações e responsabilidades, há
tarefas ou pedidos corretos que você não pode simplesmente recusar. Mas
quando você pode, seja direto e concreto. Nada de “veja bem” ou “te
respondo amanhã” – não é não, e – a não ser que a solicitação seja fútil
– quem está lhe pedindo precisa saber que vai ter de partir para outra
alternativa.
Sempre ajuda se você puder expor rapidamente a razão do não – mas sem “coitadismo”, nem desculpas (como já vimos no artigo “
Liderança e motivação: quer ser levado mais a sério?“).
Também evite a justificativa com base em posição hierárquica ou de
poder, ou fugir de apresentar uma posição clara. Assuma claramente que
está dizendo “não”, exponha suas prioridades e obrigações e, se
possível, apresente alternativas ou oportunidades.
Em especial, mantenha a sua posição, a não ser que haja uma mudança
de circunstância. Não diga “não” só para dar um susto ou para se
enganar – se disser que não pode fazer algo, realmente não faça. Se
disser que vai fazer, faça, no prazo e na qualidade esperados. Mantenha
sua palavra para ser levado a sério.
Um caso à parte é o do
assédio moral,
em que dizer “não” pode ser insuficiente. O assédio moral geralmente
acontece devido a abuso do poder pela autoridade, e pode provocar um
cenário de discriminação dentro da organização, eventualmente culminando
no fim da relação de trabalho e emprego. Se for o seu caso, saiba dizer
não, mas procure também outras formas de lidar com a situação, sem
abrir mão da
ética profissional!
Dizendo “não” em projetos
No artigo anterior “
As muitas formas de dizer “não” em um projeto“, já tratei sobre 5 maneiras de dizer “não” durante o andamento de um projeto.
Claro que elas devem ser reservadas apenas para quando não se pode dizer “sim”, e sempre sabendo dos riscos que podem gerar ;-)
No andamento de um projeto, dizer “não” é uma arte e um talento que o
responsável estratégico ou tático por projetos precisa desenvolver e
cultivar, para o bem de sua equipe e mesmo de seus resultados. E saber
só usar nos momentos corretos, para poder dizer “sim” ao que de fato é
estratégico e crítico.
Saiba lidar com as conseqüências
Toda ação gera reação, e os relacionamentos humanos (inclusive os
profissionais) usualmente são vias de mão dupla. Quando você disser
“não” e seu interlocutor esperava um “sim”, deve saber que isso pode
trazer consequências no futuro.
Dizer “não” pode ser um caminho para esclarecer e assumir sua
posição, e para afastar diversos incômodos da vida, mas ao mesmo tempo
deixará outras pessoas magoadas ou brabas. Trata-se, como quase tudo na
vida, de uma oportunidade de escolha, e de um ponto de equilíbrio
difícil de atingir.
Mas pode valer a pena tentar, sem se isolar em nenhum dos extremos da escala. Experimente dizer “não” para ser mais positivo!